Os custos ocultos de morar sozinho(a)
Morar sozinha(o) pode ser um passo emocionante e libertador na vida de muitas pessoas.
A sensação de independência e autossuficiência pode ser gratificante…. e também cara.
Não é atoa que vários artigos e páginas de conteúdos se dedicam a falar dos custos e guiar quem está pensando em morar sozinho e precisa colocar na ponta do lápis as váaaarias contas para pagar como aluguel, luz, internet, água, condomínio e por aí vai. 😮💨
No Brasil, o censo identifica essas casas como “unidades domésticas unipessoais” e esse número vem crescendo. São 11,8 milhões de pessoas morando sozinhas - 15,9% dos domicílios brasileiros tinham apenas 1 morador em 2022.
A privacidade, a liberdade de arrumar as coisas do seu jeito, e ter o espaço como você sempre sonhou, a autonomia de decidir os horários, a rotina, o que comer, quando comer, o que assistir na Netflix, são pequenas “liberdades” que transformam o seu senso e definição de bem-estar.
Mas nem tudo são flores. Além dos custos mais elevados desse “estilo de vida” de quem não tem mais uma (ou mais) pessoas para dividir a conta, existem alguns custos um tanto ocultos de se viver sozinho, que não dão para colocar na ponta do lápis com tanta facilidade.
Vamos falar sobre 3 deles nesse artigo:
Custos altos de alimentação
Claro, dá para comprar menos comida, organizar melhor a dispensa. Mas isso requer muita organização e tempo.
Não dá para comprar no atacado - a despensa é pequena. Então você vai mais vezes ao mercado e tenta comprar menos coisas - mas essas visitas semanais tomam tempo e ironicamente você acaba gastando mais no fim das contas.
E muita coisa estraga se você não está disposta a tomar sozinha 1 litro de leite em questão de dias. Ou comer sozinha um pote de requeijão em uma semana. Ou aprender todos os truques do Tiktok de “como fazer os legumes durarem mais na geladeira”.
E não é só no mercado. A escolha entre uma pizza brotinho que é 50% do preço de uma pizza normal e do tamanho de 2 fatias, te coloca entre a escolha de comer pizza por 3 refeições (não tem dieta que sustente) ou se sentir furtado por pagar um absurdo só para comer uma porção menor.
E, claro, o risco de seus “problemas” de morar sozinho virar o “white people problem” do seu grupo de amigos ou dos leitores desse artigo que não se relacionam com essas caras “inconveniências”.
Custos de tempo
Agora um ponto realmente sério: Em um artigo do The Atlantic sobre o tema, foi levantada uma reflexão interessante sobre como as pessoas “do lado de fora” da unidade doméstica unipessoal percebem e até penalizam quem mora sozinho, inclusive no mercado de trabalho. Como citado lá:
“Muitas pessoas entrevistadas reclamaram que seus gerentes presumiam que eles tinham mais tempo para ficar no escritório ou assumir projetos extras porque não tinham família em casa”, disse Eric Klinenberg, sociólogo da NYU e autor do livro "Going Solo: The Extraordinary Rise and Surprising Appeal of Living Alone”.
“Alguns disseram que também não foram compensados de forma justa, porque os gerentes davam aumentos às pessoas com base na impressão de que tinham mais despesas, com creche e assim por diante.”
Isso deu um nó na minha cabeça. E me fez refletir sobre as interações sociais na minha vida em que alguém sugeriu que eu fizesse alguma coisa por presumir que “como eu moro sozinha” abrir mão de um domingo ou de um tempo para mim, para fazer algo que eu não queria, não era um problema porque eu não morava com minha família.
E essa reflexão traz uma pergunta mais radical para esse artigo: se tempo é dinheiro, por que alguém que não mora com a família (e já tem que pagar mais caro para morar sozinho) também tem que pagar “mais” em tempo na visão de outras pessoas - inclusive seus chefes? Quem mora sozinho está sendo duplamente onerado?
Custos de “talento”
E agora um custo oculto bobo porque o artigo estava indo para reflexões mais profundas sobre a sociedade: o custo de não ter “talentos” para arrumar coisas em casa.
Co-habitando com mais pessoas é provável que, pelo menos alguém, saiba coisas simples de manutenção de casa, como trocar a lâmpada ou não ter medo de trocar a resistência do chuveiro, por exemplo.
Esse ponto bobo é levantado por uma pessoa que gastou uma quantia considerável pagando porteiros para trocar a resistência do chuveiro ao longo dos anos até ter coragem de fazer isso sozinha (o que não aconteceu. Eu queria poder compartilhar que tive um ato de bravura e empoderamento ao enfrentar meu medo da resistência do chuveiro mas eu estaria mentindo - eu fiz meu namorado aprender a fazer isso por mim).
Não, não é barato, essa é premissa do artigo. Precisa sim ter uma reserva de emergência, organização e determinação para morar sozinha. Mas são tantos os benefícios que, na opinião dessa autora, vale a pena passar por essa fase da vida - ou viver essa escolha de vida se for o certo para você.
Escrito por Fernanda, expert em morar sozinha, com 8 anos de experiência.